Quando relembro as imagens de um filme dirigido pelo Fellini, viajo além do tempo, e reencontro o menino que fui um dia. Impossível desplugar minha infância do cinema desse italiano nascido na cidade de Rimini, em 1920.
Minha família, meus amigos, vizinhos, a igreja, o clube, os loucos... Todos os personagens e as situações, do Amarcord, eram (são?) presentes no meu cotidiano. É, eu fui um garoto impresionável, idêntico ao Titta. Tal como ele, criei um mundo todo meu, para manter a sanidade, diante de um mundo caótico.
Constantemente me pergunto por que as pessoas perdem com o passar do tempo, a capacidade de verem cavalos verdes, de sentir pena do tio louco que apedreja a toda a família e clama por uma mulher, de rirem das desventuras, das peças e artimanhas que a vida nos prega? O inesperado é o que ocorre sempre nas nossas vidas, ninguém esta imune de ser tragado pelas ondas do destino.
E sempre bom ter em conta, que nas horas mais loucas, haverá uma freira anã, montada num cavalo verde, estendendo sua mão para que desçamos da árvore, e voltemos a nossa idílica Rimini.